dogville - 03/03/2007

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{\*\generator Msftedit 5.41.15.1507;}\viewkind4\uc1\pard\qj\f0\fs24 Lars Von Trier \'e0 sua maneira\par

Rodrigo Tangerino - Op. de C\'e2m.\par

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Dogville, filme de Lars Von Trier de 2003 deixa no ar um conjunto de sensa\'e7\'f5es perante o tempo, a vida e a responsabilidade. Tanto isso \'e9 verdade que, se reun\'edssemos todas as press\'f5es e repress\'f5es existentes na trama num s\'f3 dia, este seria um tormento imenso, uma trag\'e9dia d\'e9bil de desencontros r\'e1pidos por\'e9m devastadores. A constru\'e7\'e3o dram\'e1tica do filme se d\'e1 em nove cap\'edtulos e um pr\'f3logo; cada cap\'edtulo funciona como um filme independente do todo, embora este s\'f3 possa ser compreendido com uma ordem l\'f3gica dos acontecimentos - "opera\'e7\'e3o \i gest\'e1ltica\b "\b0\i0 . A escolha por tal estrutura, al\'e9m de outras caracter\'edsticas que v\'e3o na contram\'e3o da linguagem m\'e9dia dos filmes da ind\'fastria, confere ao projeto uma dinamicidade de curta metragem e um senso cr\'edtico perante as conven\'e7\'f5es, inclusive algumas daquelas impostas pelo Dogma95, movimento que Trier desenvolveu junto com outro cineasta, o tamb\'e9m dinamarqu\'eas \lang2070 Thomas Vinterberg. No manifesto oficial, propunha-se uma alternativa de realiza\'e7\'e3o partindo de especificidades na concep\'e7\'e3o, realiza\'e7\'e3o e finaliza\'e7\'e3o. Algumas delas, como a utiliza\'e7\'e3o do som direto sem p\'f3s-trilha e a utiliza\'e7\'e3o de loca\'e7\'f5es naturais, al\'e9m do uso da c\'e2mera na m\'e3o, fazem de \i\ldblquote Os Idiotas\rdblquote\i0 , de 1998, um filme dourado em certos aspectos, tradutor evidente de um realizador com uma envergadura art\'edstica bastante desenvolvida mas ainda sem um estilo pr\'f3prio.\par

Partindo desta id\'e9ia do \i make it new\i0  poundiano, buscado/instaurado \'e0 for\'e7a pelo Dogma95, temos, no caso da evolu\'e7\'e3o de Lars Von Trier, uma equa\'e7\'e3o que relaciona a vontade de construir um discurso pr\'f3prio partindo da simplicidade estrutural na constru\'e7\'e3o/conjun\'e7\'e3o de determinados m\'e9todos de composi\'e7\'e3o de c\'f3digos visuais espec\'edficos e sua contribui\'e7\'e3o pessoal \'e0s gera\'e7\'f5es mais novas.\par

O filme se equilibra numa estrutura est\'e9tica que une um desenho de luz sofisticado, atendendo as nuances da trama e \ldblquote esculpindo o tempo\rdblquote , para citar A. Tarkovski; a \ldblquote falta\rdblquote  de um cen\'e1rio, quer dizer, sua falta \ldblquote f\'edsica\rdblquote  \endash  j\'e1 que na verdade ele est\'e1 todo l\'e1, coexistindo e correspondendo diretamente com os outros fatores que d\'e3o ao filme seu ar minimalista, no qual tenta-se, sempre que poss\'edvel, atribuir a um determinado vazio de inten\'e7\'f5es uma originalidade e complexidade intensas. O que \'e9 interessante de se perceber \'e9 que essas caracter\'edsticas s\'e3o opostas aos princ\'edpios do Manifesto de 95. Ser\'e1 isso propriamente uma evolu\'e7\'e3o? Muito se fala de Lars Von Trier como um \ldblquote maneirista\rdblquote , ou seja, um portador de uma \ldblquote maneira\rdblquote  individual de fazer cinema, adquirida a partir dos avan\'e7os desenvolvidos antes dele e transformado num estilo novo, caracter\'edstico, demasiadamente barroquizado, geralmente colocando como chaves de compreens\'e3o pulsa\'e7\'f5es est\'e9ticas e formais, partes fundamentais para a evolu\'e7\'e3o da linguagem cinematogr\'e1fica. Nesse sentido, no meu ponto de vista, os paradoxos existentes no bin\'f4mio Os Idiotas/Dogville parecem mais uma exacerba\'e7\'e3o desta busca de um estilo particular. Se em \i\ldblquote Os Idiotas\rdblquote\i0  os conceitos da naturalidade estrutural - condi\'e7\'f5es de luz, som e movimenta\'e7\'e3o \endash  s\'e3o levados ao seu extremo, em Dogville temos uma estiliza\'e7\'e3o diametralmente oposta, inclusive no campo da representa\'e7\'e3o dos atores. Esse \ldblquote fazer de conta\rdblquote , essa trapa\'e7a conceitual que o diretor oferece aos espectadores \'e9 que causa a primeira rea\'e7\'e3o adversa. \par

\'c9 bem verdade que a id\'e9ia da \ldblquote c\'e2mera na m\'e3o\rdblquote  e a utiliza\'e7\'e3o de equipamentos mais leves j\'e1 tinha sido deflagrada pelo Neo Realismo\b\i , \b0\i0 e pela onda de cinemas novos que o movimento italiano proporcionou, mas em Dogville Lars Von Trier sensibiliza mais a c\'e2mera, a desestabiliza mais, transformando este procedimento num tormento para os acostumados com a ditadura do trip\'e9 ou da c\'e2mara est\'e1vel e petrificada. Nesse sentido, tanto a met\'e1fora da transpar\'eancia da estrutura do vilerejo transforma-se n\'e3o numa nega\'e7\'e3o da \ldblquote escolha por loca\'e7\'f5es naturais\rdblquote  de \i\ldblquote Os Idiotas\rdblquote\b\i0 ,\b0  mas numa prova de uma evolu\'e7\'e3o n\'e3o da mesma proposta na mesma estrutura, mas num outro plano relacional, o da imagina\'e7\'e3o: o cen\'e1rio de Dogville \'e9 um lugar vazio, funciona como uma metaloca\'e7\'e3o que se constr\'f3i na medida em que os personagens v\'e3o construindo suas significa\'e7\'f5es.\par

Do ponto de vista tem\'e1tico, a constru\'e7\'e3o da narrativa em abismo remete diretamente \'e0 Orson Welles e coloca em quest\'e3o o cabresto s\'f3cio-cultural interno e externo que os Estados Unidos da Am\'e9rica exerce no mundo todo, tendo mais recentemente como resposta as quest\'f5es levantadas pelo terrorismo. \'c9 nessa instabilidade de aceita\'e7\'e3o das diferen\'e7as que reside toda a for\'e7a do conjunto de Dogville. Os atores interpretam tipos sociais, esp\'e9cies de pessoas-s\'edmbolo com caracter\'edsticas bem delineadas mas com uma capacidade de se multifacetar conforme a necessidade do momento. Esse comportamento truncado faz do di\'e1logo entre o filme e o posicionamento ideol\'f3gico do autor uma microc\'e9lula da sociedade. A protagonista, por exemplo, ao mesmo tempo em que representa \ldblquote o estrangeiro\rdblquote , \ldblquote o b\'e1rbaro\rdblquote , com um poderio interior que pode ser amea\'e7ador, tamb\'e9m representa a constru\'e7\'e3o de uma nova organiza\'e7\'e3o, mais coletivista e antihip\'f3crita. Ela tem o controle total da id\'e9ia de tamb\'e9m ter um poder destruidor, apesar de ter escolhido, ao cair em Dogville, uma esp\'e9cie de \ldblquote vida experimental\rdblquote , uma busca interior que leva \'e0 destrui\'e7\'e3o de todo um panorama estabelecido. O redor, por outro lado, tamb\'e9m possui seu selvagerismo e constr\'f3i paisagens de um passadismo e de um medo extremos, parte integrante do grupo \endash  leia-se, especialmente, classe m\'e9dia. \par

Assim, tomando a contribui\'e7\'e3o de Lars Von Trier como artista, podemos dizer que ele \'e9 um dos grandes diretores contempor\'e2neos, um dos poucos que unem de maneira t\'e3o forte o vi\'e9s tem\'e1tico e o est\'e9tico, sendo que muitas das suas propostas servem de ponto de partida para produ\'e7\'f5es independentes, inclusive o de uma valoriza\'e7\'e3o massiva do digital.\par

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