A Greve: novo estilo do fazer artístico. 30/04/2004

 A Greve: novo estilo do fazer artístico.

A Greve é um filme contraditório e de ângulos agudos, com bruscos conflitos de significados” 

S. Eisenstein

A princípio, o que torna “A Greve” um filme especial é a já sofisticada visão cinematográfica de seu realizador que aos 26 anos de idade arregalou os olhos de multidões para sua beleza até então não provada; num segundo campo – o do elo entre o primor técnico e o intelectual – as idéias de Serguei Eiseinstein convergiram para uma nova aproximação da arte e dos anseios sócio-culturais daquela época: um projeto revolucionário com base na repulsa as concepções individualistas/psicologistas do cinema burguês e na exaltação das forças e ações coletivas - uma carga ideológica altamente fortificante para o proletariado que, não sem razão, via-se como verdadeiros transformadores da história e lutavam para que o conjunto alcançasse o poder. 

O filme foi rodado entre julho e outubro de 1924 como a quinta parte de uma série cinematográfica intitulada “Até a Ditadura”, que seria uma espécie de panorama audiovisual dos movimentos e ações de luta do proletariado – como greves, fugas,  prisões, confrontos etc. - até a tomada do poder. Sistemático e inquieto como era, Eisenstein ainda lançou-se numa busca de informações mais completa para a realização da obra, isto é, realizou uma minuciosa pesquisa histórica – compreendendo a análise de livros, periódicos e artigos referentes ao período -, visitou fábricas e manteve relações estreitas com trabalhadores. 

O filme gira em torno de uma greve ocorrida numa fábrica em Moscou; seu estopim é a injusta acusação de roubo atribuída a um dos trabalhadores, culminando na sua morte. Estruturalmente, é dividido em seis partes onde abandona-se a linearidade e o “narrar” clássico de um acontecimento e dá-se espaço à força relacional da Montagem de Atrações, que consiste em justapor imagens contrárias para conseguir um resultado de estímulo no espectador. Não se trata aqui simplesmente de juntar trechos, mas pensá-los de forma sensível de modo que o impacto causado pela experiência fílmica realmente funcione como um convite à ação. Um outro ponto a ser ressaltado, iniciado ainda na fase teatral de Eisenstein, é a chamada Teoria de Tipagem de Atores: para representar os papéis, o diretor utilizou trabalhadores com o intuito de atingir um resultado ideológico, ou seja, quem quer que fizesse parte de proletariado encontraria-se representado na película e sua identificação com a situação apresentada seria direta já que ambos – ator e espectador - estão na mesma situação social e espiritual. Dizem até que durante algumas exibições, muitos trabalhadores se levantavam indignados com as cenas de opressão, tamanho o toque alcançado com tal técnica cênica. 

A Greve teve sua primeira exibição pública em fevereiro de 1925, em Leningrado. Por se tratar de uma obra extremamente nova em termos de arte, foi recebida com um certo estranhamento, mas logo alcançou o objetivo pelo qual havia sido pensada, dando novo sentido ao pensamento cinematográfico.


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